quinta-feira, 31 de março de 2011

Silêncio português


Já sabiam que Espanha é o segundo país mais ruidoso do mundo? Segundo os estudos, o nosso país só é superado pelo Japão. Isto é para compreenderem bem o que dizem estas palavras que alguém escreveu numa parede em Portugal.


Fotografia retirada do blogue Iter ab Olisipone (EOI do Montijo, Badajoz)




"Eu quase que nada não sei..." (João Guimarães Rosa)


Umas palavras que diz o jagunço Riobaldo, personagem do romance Grande sertão: veredas, grande obra do escritor brasileiro João Guimarães Rosa. Pensem um bocado no que ele quereria dizer. Há muita sabedoria nessas palavras, não acham?


"Eu quase que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa."


Nota. Jagunço (Bras.) Homem que serve de guarda-costas a uma personalidade.





quarta-feira, 30 de março de 2011

"Matar saudades" mais uma vez

Titulo da fotografia: Só para matar saudades


Já vimos na mensagem A palavra 'saudade' o seguinte:

A expressão "matar a saudade" ou "matar saudades" é usada para designar o desaparecimento (mesmo temporário) desse sentimento. É possível "matar a saudade", por exemplo, relembrando, vendo fotos ou vídeos antigos, conversando sobre o assunto, reencontrando a pessoa que estava longe, etc.

A saudade pode gerar sentimentos de angústia, nostalgia e tristeza, e quando "matamos a saudade" geralmente sentimos alegria.

Parece que não ficou claro para alguns alunos o significado de matar saudades. Lá vai mais uma definição:

"satisfazer o desejo, o anseio de rever uma pessoa, um lugar, uma coisa."

Reparem nessas amigas da fotografia: não se viam há tempo e estão a matar saudades, muito contentes por estarem juntas e poderem falar, e contar, e etc. e tal.



terça-feira, 29 de março de 2011

Eduardo Souto de Moura, Prémio Pritzker de Arquitetura


O arquitecto português Eduardo Souto de Moura (Porto, 1952) foi premiado com o Pritzker 2011, que é considerado como o «Nobel da arquitectura»

Ele trabalhou com Álvaro Siza Vieira, mas cedo criou o seu próprio espaço de trabalho. Souto de Moura, influenciado pela horizontalidade das linhas condutoras de Mies van der Rohe, tem nas casas o seu grande espólio de obras. É um dos expoentes máximos da chamada Escola do Porto.

Em declarações à Lusa, o arquitecto Siza Vieira, o primeiro português galardoado com o prémio Pritzker em 1992, realçou que "é um prémio justíssimo, de carreira e que é decidido pela continuidade na qualidade das obras de um arquitecto como é o caso do arquitecto Souto de Moura".

A notícia em porto24


Museu Paula Rego, Casa das Histórias, Cascais, Portugal, 2009 
(Fotografia de Fernando Guerra)

As seguintes fotografias são do Centro de Negócios Burgo, no Porto








segunda-feira, 28 de março de 2011

Azóia na Líbia, az-Zâwiya em Portugal


Muito falada nos últimos dias pelas piores razões, a cidade líbia de az-Zâwiya (الزاوية) tem precisamente o mesmo nome que as povoações portuguesas chamadas Azóia, cujo nome vem de az-Zâwiya, e de que a mais conhecida é Santa Iria da Azóia. A palavra significa "recanto", ou "oratório", dependendo dos contextos.

Por alguma razão obscura que não consigo descortinar, a imprensa portuguesa chama à cidade líbia "Zâwiya", roubando-lhe o artigo, que faz parte integrante do nome.


للأصدقائي العرب: في البرتغال مدن كثيرة التي أسماؤها الزاوية


(Fonte: Mensagem publicada no blogue pesporrente)



sexta-feira, 25 de março de 2011

Para perceber melhor os grandes números



A Terra tem uma população que ultrapassa os 6 mil milhões de pessoas (dados de 1999). "Vemos" essa quantidade tão grande? É difícil., não é? Se calhar, com esta adaptação seremos capazes de o apreciar mais facilmente.


Sabia que:

Se fosse possível reduzir a população do mundo inteiro a uma vila de 100 pessoas, mantendo a proporção do povo existente agora no mundo, tal vila seria composta de:

  • 57 Asiáticos
  • 21 Europeus
  • 14 Americanos (Norte, Centro e Sul)
  • 8 Africanos
  • 52 seriam mulheres
  • 48 homens
  • 70 não brancos
  • 30 brancos
  • 70 não cristãos
  • 30 cristãos
  • 89 seriam heterossexuais
  • 11 seriam homossexuais
  • 6 pessoas possuiriam 59% da riqueza do mundo inteiro e todos os 6 seriam dos EUA
  • 80 viveriam em casas inabitáveis
  • 70 seriam analfabetos
  • 50 sofreriam de desnutrição
  • 1 estaria para morrer
  • 1 estaria para nascer
  • 1 teria computador
  • 1 teria formação universitária

Se o mundo for considerado sob esta perspectiva, a necessidade de aceitação, compreensão e educação torna-se evidente. Considere ainda que se acordou hoje mais saudável que doente, tem mais sorte que um milhão de pessoas, que não verão a próxima semana. Se nunca experimentou o perigo de uma batalha, a solidão de uma prisão, a agonia da tortura, a dor da fome, tem mais sorte que 500 milhões de habitantes no mundo. Se pode ir à igreja sem o medo de ser bombardeado, preso ou torturado, tem mais sorte que 3 milhões de pessoas no mundo.

Se tem comida no frigorífico, roupa no armário, um tecto sobre a cabeça, um lugar para dormir, considere-se mais rico que 75% dos habitantes deste mundo. Se tiver dinheiro no banco, na carteira ou uns trocos em qualquer parte, considere-se entre os 8% das pessoas com a melhor qualidade de vida no mundo. Se seus pais estão vivos e ainda juntos, considere-se uma pessoa muito muito rara. Se puder ler esta mensagem, não está entre os dois mil milhões de pessoas que não sabem ler.

Vale a pena tentar:

a) Trabalhe como se não precisasse de dinheiro;
b) AME como se nunca ninguém te tivesse feito sofrer
c) Dance como se ninguém estivesse olhando;
d) Cante como se ninguém estivesse ouvindo;
e) Viva como se aqui fosse o paraíso!

(d.a.)


(Lido em Palavras ao sabor do vento)



Duas caricaturas de Ronaldo (Gilmar Fraga)






Duas caricaturas do jogador brasileiro Ronaldo Nazário da Lima, Ronaldo, feitas por Gilmar Fraga, a primeira delas para a edição de domingo, 20 de fevereiro de 2010, editoria de Opinião do jornal Zero Hora de Porto Alegre.



quarta-feira, 23 de março de 2011

Quando as galinhas tiverem dentes

Obra da brasileira Selma Weissmann

Alguém é capaz de dizer qual a expressão equivalente de Quando as galinhas tiverem dentes em espanhol? Em português há uma outra expressao semelhante: no dia de São Nunca à tarde.


terça-feira, 22 de março de 2011

Uma fotografia antiga um tanto diferente


Olhem o que fez Leonor, que nasceu na vila alentejana de Redondo, com uma fotografia antiga. Agora é diferente, não é? Esses bigodes não são uns bigodes quaisquer, são uns bigodes farfalhudos. (farfalhudo é "vistoso; garrido; empolado").



segunda-feira, 21 de março de 2011

Para ser grande sê inteiro (Fernando Pessoa)

Ricardo Reis visto por Almada Negreiros

Hoje, dia 21 de Março, é o Dia Mundial da Poesia. É por isso que temos uns versos do poeta português Fernando Pessoa, embora não pareça... Leiam a nota em baixo depois de ler o poema.

Para ser grande, sê inteiro:
Nada teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa.
Põe quanto és no mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive’


Ricardo Reis

Ricardo Reis é um dos heterónimos do poeta português Fernando Pessoa (1888-1935) considerado um dos maiores poetas da língua portuguesa de sempre.


Heteronímia  (heteros = diferente; + ónoma = nome) é o estudo dos heterónimos, isto é, estudo de autores fictícios (ou pseudoautores) que possuem personalidade. Ao contrário de pseudónimos, os heterónimos constituem uma personalidade. (...)  O maior e mais famoso exemplo da produção de heterónimos é do o poeta português Fernando Pessoa, criador de Ricardo Reis, Álvaro de Campos e Alberto Caeiro, além de outros de menor importância e do semi-heterónimo Bernardo Soares.

Sendo assim, quando o autor assume outras personalidades como se fossem pessoas reais.



Alunos homónimos

Dois homónimos (ou xarás) a celebrarem um golo

Aqueles que gostam de futebol, e acho que muitos daqueles que não gostam, conhecem estes dois futebolistas brasileiros:  um é Ronaldo Luís Nazario de Lima, também conhecido como Ronaldo "Fenômeno" ou Ronaldinho (Rio de Janeiro, 22 de setembro de 1976), e que recentemente anunciou a sua retirada. O outro é Ronaldo de Assis Moreira (Porto Alegre, 21 de março de 1980), mais conhecido como Ronaldinho Gaúcho ou Ronaldinho.

É claro que ambos têm o mesmo nome, e é por isso que eles são xarás (no Brasil). Em Portugal diriam que eles são homónimos, e nós diríamos "tocayos".

Já falei numa mensagem das Lauras do 4º ano, e agora vamos ao 3º, onde há três alunos chamados Víctor. Há dois grupos de homónimos, pois, nas duas turmas. 

Nota

Homónimo provém do grego homónymos, que tem o mesmo nome.

Xará. Pessoa com nome de batismo idêntico ao de outra; xarapim (do tupi *xa'ra, de xe rera 'meu nome')



sexta-feira, 18 de março de 2011

Isto anda tudo ligado (Sérgio Godinho)


Sérgio Godinho é um dos maiores cantores portugueses. No seu disco O irmão do meio fez uma revisão de muitas das suas canções: novos arranjos e colaborações de óptimos cantores e bandas portugueses, brasileiros, caboverdianos...

Nesta canção,"Isto anda tudo ligado", canta acompanhado pela banda de hip-hop portuguesa Da Weasel e pelo rapper brasileiro Gabriel o Pensador.


ISTO ANDA TUDO LIGADO

Ainda não vi
a impressionante mariposa ainda não
a pretendente pesarosa ainda não
a tarde morna e vagarosa ainda não
ainda não vi as duas faces da provável solidão

Ainda não vi a bomba H
ainda não vi a de neutrões
ainda não vi os meus travões
a ver se paro antes de chegar lá

Ainda não vi
o riso que tudo desvenda ainda não
o reverendo e a reverenda ainda não
o leão ferido e a sua senda ainda não
ainda não vi a face clara da possível confusão

Ainda não vi a hora H
ainda não vi a mão em V
ainda não vi o dia D
em que a guerra final começará

Quando eu nascer para a semana
ó mana
quando eu nascer para a semana
hei-de ouvir o teu parecer
hás-de me dizer
hás-de me dizer
hás-de me dizer
se é cada coisa para seu lado
ou se isto anda tudo ligado

Ainda não vi
as artimanhas da saudade ainda não
a caravana na cidade ainda não
a incorruptibilidade ainda não
ainda não vi as duas faces da provável solidão

Ainda não vi a bomba H
ainda não vi a de neutrões
ainda não vi os meus travões
a ver se paro antes de chegar lá

Ainda não vi
o abraço à porta da taberna ainda não
a ideológica lanterna ainda não
a mão que avança para a perna ainda não
ainda não vi a face clara da possível confusão

Ainda não vi a hora H
ainda não vi a mão em V
ainda não vi o dia D
em que a guerra final começará

Quando eu nascer para a semana
ó mana
quando eu nascer para a semana
hei-de ouvir o teu parecer
hás-de me dizer
hás-de me dizer
hás-de me dizer
se é cada coisa para seu lado
ou se isto anda tudo ligado

Ainda não vi
a grossa lágrima ao espelho ainda não
o grande chefe e o seu grupelho ainda não
o azul-turquesa e o vermelho ainda não
ainda não vi as duas faces da provável solidão

Ainda não vi a bomba H
ainda não vi a de neutrões
ainda não vi os meus travões
a ver se paro antes de chegar lá
Quando eu nascer para a semana
ó mana
quando eu nascer para a semana
hei-de ouvir o teu parecer
hás-de me dizer
hás-de me dizer
hás-de me dizer
se é cada coisa para seu lado
ou se isto anda tudo ligado










Uma anedota



Primeiro, duas definições. De anedota e de asneira.  Reparem que a palavra anedota é grave em português e não esdrúxula.

Diz-nos o dicionário Priberam:

Anedota. “Breve narração de caso verídico pouco conhecido; chiste.”
Asneira. “1. Tolice, disparate. 2. Dito obsceno.”

Desta segunda palavra, temos um sinónimo em palavrão.

Vamos lá com a anedota....

Dois homens estavam a trabalhar em casa de uma velhota, e ela passava a vida a queixar-se ao patrão de que eram muito malcriados e estavam sempre a dizer asneiras. Até que ele lhes pediu para se tentarem controlar.

— Pelo menos à frente da velhota, pá. Coitadinha.
— Está prometido, patrão – assentiram.

Apenas duas horas volvidas, contudo, a senhora telefonou esbaforida a queixar-se deles. De que, ainda por cima, um deles tinha dito uma das piores, mais feias, mais canalhas, mais torpes, mais obscenas asneiras possíveis.

Quando voltaram, o patrão admoestou-os:

— Então? Vocês tinham prometido que não diziam palavrão nenhum, e afinal... Ainda por cima foram logo dizer aquele...

— Mas, patrão – respondeu um. – Nós não dissemos asneira nenhuma, juro que não. A única coisa que aconteceu foi que o Chico estava em cima do escadote a soldar um fio, e a certa altura deixou cair um pingo de solda a ferver mesmo em cima da minha mão. E eu apenas me virei para ele, e disse-lhe, muito suavemente, com toda a calma. «Ó Chico, então foste distraído ao ponto de deixares cair um pingo de solda a ferver em cima da minha mão? Olha que eu não te quero incomodar mas isso provoca uma dor algo intensa e assim um bocado como que a dar para o assaz desagradável»...


Anedota lida no livro A Palavra Mágica e outros contos, do escritor português Rui Zink. No conto que dá título ao livro o autor recorda a primeira asneira que ele disse em miúdo e o quanto custou dizê-la. Zink voltará por aqui com palavras mesmo dele.



O mundo em que vivi (Ilse Losa)




O primeiro dia da escola. A saca às costas, caminhei ao lado da minha mãe, cheia de curiosidade e de receios. O sr. Brand, o professor, distribuía sorrisos animadores aos meninos, que o fitavam com desconfiança. A barba grisalha e o colarinho engomado davam-lhe um ar de austeridade, mas os olhos alegres protestavam contra tal impressão. Começou por nos falar, e doseava serenidade com humor para afugentar os nossos medos. De todas as escolas por que passei, a de que verdadeiramente gostei foi a escola primária. Quando o sr. Brand tomou nota do meu nome ninguém se virou para mim com sorrizinhos por soar a judaico, ninguém achou estranho eu responder «Israelita» à pergunta do sr. Brand à minha religião. Fora a mãe que me recomendara: «Quando o sr. Brand te perguntar pela religião, diz-lhe que és israelita. Soa melhor do que judia». Eu não concordava, porque achava «israelita» uma palavra estranha que não parecia pertencer à minha língua e, por isso, corei de embaraço ao pronunciá-la. E quando o sr. Brand quis saber a profissão do meu pai respondi «negociante de cavalos». Coisa natural. Muitos alunos eram filhos de lavradores e conheciam o meu pai. Não me sentia envergonhada daquilo que eu e o meu pai éramos, como aconteceria mais tarde, no liceu, quando a minha mãe me recomendou que às perguntas respondesse, além de «sou israelita», que o meu pai era «comerciante».

O liceu ficava em L..., a cidade onde havia o teatro e a sinagoga. Tomávamos, manhã cedo, o comboio e, com gesto arrogante, estendíamos o passe anual ao revisor.

No primeiro dia de aulas tivemos de dizer o nosso nome e profissão do pai e a religião. Conforme recomendação da minha mãe eu disse:

- O meu pai é comerciante. Sou israelita.

Na escola primaria tudo fora natural. No liceu colegas viraram-se e olharam-me. Mais duas judias faziam parte da turma e uma delas, Hanna Berg, respondeu à pergunta com voz firme: «Sou judia». Os gestos de Hanna eram extraordinariamente vivos e comunicativos, enquanto nos seus olhos havia a expressão dessa melancolia penetrante das seculares lendas de sabedorias e flagelos.

Hanna propôs-me que a acompanhasse a uma reunião dos sionistas. E nessa tarde. em que conheci o grupo juvenil a que ela pertencia, compreendi por que razão dissera com tanta firmeza: «Sou judia».

Numa sala espaçosa vi rapazes e raparigas de blusa branca e gravata azul e, encostada a um canto, a bandeira azul e branca. Hanna saudou o grupo com «Shalom», «paz», e todos lhe responderam do mesmo modo.

Desprendeu-se do grupo um rapaz. Bateu palmas. Fez-se silêncio, e ele disse:

- Vamos começar.

Hanna indicou-me uma cadeira e segredou-me:

- É o Bertold. Repara bem nele.

Bertold: alto, de calções de camurça, expressão franca e decidida. Levantou a mão para dar sinal de começar e vi que era uma mão larga e forte. No momento em que Bertold dobrou os ombros para trás, endireitou o tronco e moveu a mão, os rapazes e as raparigas começaram a falar em coro: primeiro um murmúrio crescente, depois vozes altas, vigorosas, que pareciam vir duma grande massa de gente. Diziam de injustiças, de orgulho, de expectativa duma vida livre em Israel. Como um chefe de orquestra, Bertold regia-os. Juntava as mãos em concha para em seguida as erguer num movimento rápido: as vozes elevavam-se; abria os braços como quem pedia para recuarem: as vozes baixavam; rasgava o ar com as mãos: as vozes emudeciam. As frases esperançosas, a convicção com que eram ditas, isso impressionava-me fortemente. Concluí que aniquilaram todas as dúvidas e resignação dos velhos, que encontraram rumos novos. «Devemos ter orgulho por sermos judeus», diziam os velhos, mas na verdade procuravam apenas consolo. Esses jovens, porém, esses sim orgulhavam-se deveras.

Depois das declamações começaram a dançar a «horra». Deitando os braços pelos ombros uns dos outros formavam um círculo, rodavam para a esquerda sempre para a esquerda, alegres e entusiásticos. Cantaram a comunicativa melodia da «hatikwah», a canção da «esperança».

Excitada, falei em casa da reunião. Tencionava voltar lá para aprender a falar em coro, dançar a «horra» e cantar a «hatikwah». Mas tanto o meu pai como a minha mãe acharam que não, que isso não me servia. Só me meteria na cabeça a emigração para a Palestina e eu, como boa alemã, não devia abandonar a pátria a que pertencia.

Quando falei ao sr. Heim, sorriu um tanto triste:

- Repara, Rose, o meu rapaz também anda com os sionistas e por isso há discórdia em casa. Ele e a mãe quase que não se falam

Excerto do livro de Ilse Losa, O mundo em que vivi (1949)




Ilse Lieblich Losa (nascida Ilse Lieblich, Melle-Buer, 20 de Março de 1913 — Porto, 6 de Janeiro de 2006) foi uma escritora portuguesa de origem judaica.

Nascida na Alemanha, frequentou o liceu em Osnabrück e Hildesheim e mais tarde um instituto comercial em Hannover.

Ameaçada pela Gestapo de ser enviada para um campo de concentração devido à sua origem judaica, abandonou o seu país natal em 1930. Deslocou-se primeiro para Inglaterra onde teve os primeiros contactos com escolas infantis e com os problemas das crianças. Chegou a Portugal em 1934, tendo-se fixado na cidade do Porto, onde casou com o arquitecto Arménio Taveira Losa, tendo adquirido a nacionalidade portuguesa. Em 1943, publicou o seu primeiro livro, O mundo em que vivi, e desde essa altura, dedicou a sua vida à tradução e à literatura infanto-juvenil, tendo sido galardoada em 1984 com o Grande Prémio Gulbenkian para o conjunto da sua obra dirigida às crianças.


quinta-feira, 17 de março de 2011

Rodopiando no Sambódromo do Rio






É verdade que o Carnaval já passou, mas gostei destas fotografias de Miguel Enrique Murgas em que não falta movimento. E cores também não faltam, pois não? Foram tiradas no Sambódromo do Rio de Janeiro.



"quando o melaço" (Arlindo Barbeitos)



quando o melaço
escorre pelas pontas sem forma
quando o aroma do mel quente atrai as abelhas
quando as manchas pretas
no fundo amarelo
lembram o leopardo

então
come-se a banana devagarinho
lambendo os dedos depois

Arlindo Barbeitos


Arlindo Barbeitos é um poeta angolano. A sua poesia tem reminiscências da poética tradicional africana, de tradição oral, e das poesias chinesa e japonesa.

Nota. O melaço é resultante da etapa de centrifugação ou de decantação, no processo de fabricação de açúcar (em espanhol é "melaza").



terça-feira, 15 de março de 2011

Os 3 erres: Redução - Reutilização - Reciclagem



No que diz respeito à reciclagem, Portugal vai à frente do nosso país. Vejam, senão, quantos são os contentores que ali têm:

Papelão: Recipiente destinado ao depósito ou à recolha de papel, para posterior reciclagem.

Embalão: Recipiente destinado ao depósito ou à recolha de embalagens, sacos de plástico, metais ou afins, para posterior reciclagem

Vidrão: Recipiente destinado ao depósito ou à recolha de vidro (partido ou fora de uso) para posterior reciclagem.

Pilhão: Recipiente destinado ao depósito ou à recolha de vidro (partido ou fora de uso) para posterior reciclagem.

Oleão: Recipiente destinado ao depósito ou à recolha de óleos usados, para posterior reciclagem.

Rolhão: Recipiente destinado ao depósito ou à recolha de rolhas ou outros objectos de cortiça, para posterior reciclagem.

Livrão: o recipiente onde pode depositar os livros escolares para que voltem a servir a sua função e contribuir assim, de uma forma solidária, para ajudar quem quer continuar a estudar.

Electrão: Recipiente destinado ao depósito ou à recolha de pequenos equipamentos eléctricos/elétricos fora de uso, para posterior reciclagem.



Do blogue Publicar para partilhar





segunda-feira, 14 de março de 2011

Tomar: isto é que é uma janela






Esta é a famosa janela manuelina do Convento de Cristo, na cidade de Tomar, que fica no Centro de Portugal, no Distrito de Santarém.

O que é o estilo manuelino?


sexta-feira, 11 de março de 2011

Mi Ma Bô (Sara Tavares)


Sara Tavares nasceu em Lisboa, filha de pais caboverdianos. "Portuguesa e caboverdiana ao mesmo tempo, mas com o coração no mundo", podemos ler na sua página. Aqui canta ao vivo em 2009 na cidade norte-americana de Washington.


Mi Ma Bô (bô Ma Mi)

Um paixão ta nascê, ta começa
um amor ta raiá, ta conquista

ta nascê, ta começa
ta raiá, ta conquista

(refrão)
mi ma bô, bô ma mi
nôs ta voá
mi ma bô, bô ma mi
nôs ta sonha

bô é tudo, qui'm crê, bô é nha luz
nha coração ta batê forti pa bô

(refrão)


Como a própria vida


A etiqueta diz "Humor", mas isto não é piada nenhuma. Acontece na própria vida, não acontece?

Diálogos curtos e esclarecedores

- Amanhã, antes de abalarmos, temos de ir ao pão, à lavandaria e passear o cão. Qual destas tarefas queres para ti?

- Nenhuma. 


Lido no blogue Assobio Rebelde.

Nota. abalar = intr. Ir-se embora sem prevenir.

A evolução de um sábio



O sábio sabe, sim, mas também duvida, e muito, faz-se perguntas, e pensa. Quem julga saber tudo, não é sábio nenhum.


quinta-feira, 10 de março de 2011

A importância de uma vírgula


A vírgula

Para aqueles que não sabem usar esse sinal de pontuação chamado vírgula.

Excelente a campanha dos 100 anos da ABI (Associação Brasileira de Imprensa). Vamos ver, porque isto serve também para o espanhol.


Vírgula pode ser uma pausa... ou não.
Não, espere.
Não espere.

Ela pode sumir com seu dinheiro.
23,4.
2,34.

Pode ser autoritária.
Aceito, obrigado.
Aceito obrigado.

Pode criar heróis.
Isso só, ele resolve.
Isso só ele resolve.

E vilões.
Esse, juiz, é corrupto.
Esse juiz é corrupto...

Ela pode ser a solução.
Vamos perder, nada foi resolvido.
Vamos perder nada, foi resolvido.

A vírgula muda uma opinião.
Não queremos saber.
Não, queremos saber.

A vírgula pode condenar ou salvar.
Não tenha clemência!
Não, tenha clemência!

Uma vírgula muda tudo.

ABI: 100 anos lutando para que ninguém mude uma vírgula da sua informação.

(Obrigado à Helena que enviou)



quarta-feira, 9 de março de 2011

Amável Antão, artesão


No dia 5 de fevereiro foi inauguarada no Museu de Lamego, cidade do  Distrito de Viseu, no Norte de Portugal, uma exposição de escultura da autoria de Amável Antão.


Amável Antão é um artesão da cidade de Bragança, onde é assistente-técnico do Museu Abade de Baçal. Tem vindo a acumular exposições e prémios desde 2005, sendo já hoje conhecido e reconhecido como um legítimo herdeiro e continuador da grande tradição dos artesãos de Trás-os-Montes e Alto Douro.

Num folheto que acompanhou uma exposição sua, em 2009, Georgina Pessoa escreve, entre outras coisas, o seguinte:

“… Dos velhos troncos corroídos e disformes, nascem figuras bizarras de grandes olhos vazados e fartas bocas que mostram de forma provocadora a língua ou os dentes. Seres fantasmagóricos, com várias cabeças ou povoados de répteis, sabiamente reinventados e talhados pela sensibilidade e mestria do artesão.

Porque Amável Antão conquistou esse estatuto”.

(Resumido de Jornal Norte)



segunda-feira, 7 de março de 2011

Frevo em Recife


O frevo é um ritmo musical e uma dança brasileiros com origens no estado de Pernambuco,  no nordeste do Brasil, misturando marcha, maxixe e elementos da capoeira.

Surgido na cidade do Recife no fim do século XIX, o frevo caracteriza-se pelo ritmo extremamente acelerado. Pode-se afirmar que o frevo é uma criação de compositores de música ligeira, feita para o carnaval. Os músicos pensavam em dar ao povo mais animação nos folguedos. No decorrer do tempo, a música ganhou características próprias acompanhadas por um bailado inconfundível de passos soltos e acrobáticos.


A capoeira é uma luta que influenciou diretamente as origens do frevo.


sexta-feira, 4 de março de 2011

O Carnaval português de antigamente

O combate entre o carnaval e a quaresma (1559), de Pieter Brueghel   (ca 1525-1569)

O carnaval português, que foi levado a suas colônias (inclusive o Brasil) sempre teve características bem diferentes do realizado em outros países da Europa, sendo reconhecido até mesmo por autores portugueses como uma festa cujas características principais eram a sujeira e a violência. O carnaval surgiu no Brasil em 1723, com a migração vinda das ilhas portuguesas da Madeira, Açores e Cabo Verde. As festividades carnavalescas, chamadas de Entrudo (palavra de origem latina que significa "entrada"), eram semelhantes às que ocorriam em Portugal – descritas pela Enciclopédia Portuguesa- Brasileira:

"Pelas ruas generalizava-se uma verdadeira luta em que as armas eram os ovos de gema, ou suas cascas contendo farinha ou gesso, cartuchos de pós de goma, cabaças de cera com água de cheiro, tremoços, tubos de vidro ou de cartão para soprar com violência, milho e feijão que se despejavam aos alqueires sobre as cabeças dos transeuntes.

Havia ainda as luvas com areia destinadas a cair de chofre sobre os chapéus altos ou de coco dos passantes pouco previdentes e até se jogava entrudo com laranjas, tangerinas e mesmo com pastéis de nata ou outros bolos.

Em vários bairros atiravam-se à rua, ou de janela para janela, púcaros e tachos de barro e alguidares já em desuso, como depois se fez também no último dia do ano, no intuito de acabar com tudo de velho que haja em casa.

Também se usaram nos velhos entrudos portugueses a vassourada e as bordoadas com colheres de pau etc.."


Lido aqui.


Aquarela do Brasil (Gal Costa)


Meus caros alunos, esta canção foi composta em 1939 por Ary Barroso. Imaginam? Mas as coisas boas permanecem, e mesmo agora, no século XXI, tantos anos depois, podem desfrutar dela, às portas do Carnaval. Reparem nesta maravilha!

Quem eram as alunas carnavaleiras do 4º ano? Um passo em frente, meninas!!!

AQUARELA DO BRASIL

Brasil, meu Brasil brasileiro
Meu mulato inzoneiro, vou cantar-te nos meus versos
O Brasil, samba que dá, bamboleio que faz gingar
O Brasil do meu amor, terra de Nosso Senhor

Brasil, pra mim, pra mim, pra mim

Abre a cortina do passado
Tira a mãe preta do cerrado
Bota o rei Congo no congado
Deixa cantar de novo o trovador
A merencória luz da lua
Toda a canção do meu amor
Quero ver essa dona caminhando
Pelos salões, arrastando o seu vestido rendado

Brasil, pra mim, par mim, pra mim

Brasil, terra boa e gostosa
Da morena senhora de olhar indiferente
O Brasil, samba que dá, bamboleio que faz gingar
O Brasil do meu amor, terra de Nosso Senhor

Brasil, pra mim, pra mim, pra mim

Ô, esse coqueiro que dá coco
Onde amarro a minha rede nas noites claras de luar
Ah, ouve essas fontes murmurantes
Onde eu mato a minha sede
E onde a lua vem brincar
Ah, esse Brasil lindo e trigueiro
É o meu Brasil brasileiro
Terra de samba e pandeiro

Brasil, pra mim, pra mim, Brasil


Cores brasileiras (Fotografia de Ilan Ejzykowicz)


No Porto, atiro-me? não me atiro?

Ponte D. Luís I, no Porto

Adrenaline (Fotografia de Ana Compadre)

Alguns dados sobre a ponte D. Luís I, na cidade do Porto:

* Comprimento: total 385,25 m
* Peso: 3 045 toneladas
* Arco: mede 172 m de corda e 45 m de flecha.

quinta-feira, 3 de março de 2011

"Chegou a hora de mudar"

Fotografia de Depiniped / Marco

Alguém, não sabemos quando, escreveu esta frase numa parede de Pirenópolis, município histórico do estado brasileiro de Goiás.



O tamanho dos crânios


Para comparar...


quarta-feira, 2 de março de 2011

A importância do til nasal

Um A  bem grandezinho com o seu til nasal


Uma palavra de uso tão simples como manhã não pode ser escrita sem o til nasal porque aparece aí uma palavra completamente diferente. Tudo isso por um til? Pois é!

Vejamos lá o que significa essa palavra, manha, assim, sem o til. Diz desta palavra o dicionário Priberam:

1. Artes de conseguir o que se deseja, sem trabalho, ou enganando.
2. Finura, astúcia.
3. Destreza dolosa.
4. Balda, defeito.
5. Segredo.

Estão a ver? Já sabem que devem escrever deste modo:  

Hoje está uma bonita manhã.

Amanhã de manhã vou jogar futebol.



terça-feira, 1 de março de 2011

Rua da Saudade em Coimbra



Se ontem vimos a palavra saudade escrita numa rua brasileira, hoje é uma rua da cidade portuguesa de Coimbra que aqui vem. Que belo nome para começar o mês de março: Rua da Saudade.