Gonçalo M. Tavares é um escritor português. Nasceu em agosto de 1970 em Luanda, Angola, e em 2001 publicou a sua primeira obra.
Sinopse do seu livro O Senhor Brecht: «O Senhor Brecht é um contador de histórias. Senta-se numa sala praticamente vazia e vai contando pequenas histórias entre o absurdo e o humor negro. A sala vai enchendo aos poucos, o que lhe trará no final um novo problema: o público tapa a porta de saída – e o senhor Brecht fica assim encurralado com o seu próprio sucesso.»
Sinopse do seu livro O Senhor Brecht: «O Senhor Brecht é um contador de histórias. Senta-se numa sala praticamente vazia e vai contando pequenas histórias entre o absurdo e o humor negro. A sala vai enchendo aos poucos, o que lhe trará no final um novo problema: o público tapa a porta de saída – e o senhor Brecht fica assim encurralado com o seu próprio sucesso.»
Um paradoxo, meninos e meninas: por vezes, o absurdo é maneira mais lógica de enfrentar a nossa realidade, mais uns pingos de humor, negro, é claro. O riso é uma boa medicina.
Leiamos um excerto deste livro:
O desempregado com filhos
Disseram-lhe: só te oferecemos emprego se te cortarmos a mão.
Ele estava desempregado há muito tempo; tinha filhos, aceitou.
Mais tarde foi despedido e de novo procurou emprego.
Disseram-lhe: só te oferecemos emprego se te cortarmos a mão que te resta.
Ele estava desempregado há muito tempo; tinha filhos, aceitou.
Mais tarde foi despedido e de novo procurou emprego.
Disseram-lhe: só te oferecemos emprego se te cortarmos a cabeça.
Ele estava desempregado há muito tempo; tinha filhos, aceitou.
O homem mal-educado
O mal-educado não tirava o chapéu em nenhuma situação. Nem às senhoras quando passavam, nem em reuniões importantes, nem quando entrava na igreja.
Aos poucos a população começou a ganhar repulsa pela indelicadeza desse homem, e com os anos esta agressividade cresceu até chegar ao extremo: o homem foi condenado à guilhotina.
No dia em questão colocou a cabeça no cepo, sempre, e orgulhosamente, com o chapéu.
Todos aguardavam.
A lâmina da guilhotina caiu e a cabeça rolou.
O chapéu, mesmo assim, permaneceu na cabeça.
Aproximaram-se, então, para finalmente arrancarem o chapéu àquele mal-educado. Mas não conseguiram.
Não era um chapéu, era a própria cabeça que tinha um formato estranho.
Avaria
Por um curto-circuito eléctrico incompreensível o electrocutado foi o funcionário que baixou a alavanca e não o criminoso que se encontrava sentado na cadeira.
Como não se conseguiu resolver a avaria, nas vezes seguintes o funcionário do governo sentava-se na cadeira eléctrica e era o criminoso que ficava encarregue de baixar a alavanca mortal.
Os sábios
Uma galinha, finalmente, descobriu a maneira de resolver os principais problemas da cidade dos homens. Apresentou a sua teoria aos maiores sábios e não havia dúvidas: ela tinha descoberto o segredo para todas as pessoas poderem viver tranquilamente e bem.
Depois de a ouvirem com atenção, os sete sábios da cidade pediram uma hora para reflectir sobre as consequências da descoberta da galinha, enquanto esta esperava numa sala à parte, ansiosa por ouvir a opinião destes homens ilustres.
Na reunião, os sete sábios por unanimidade, e antes que fosse tarde demais, decidiram comer a galinha.
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