Os alunos do 4º ano, os mais velhos, devem escrever acerca das suas férias grandes, que, apesar de serem grandes, acabaram - como é natural. E deste modo revêem o perfeito simples (eu fui a.... , estive em..., nadei...) e o imperfeito (eu ia, nós íamos todas as tardes, fazíamos...), mais o vocabulário (praia, piscina, jogos, etc.)
Os textos que vos trago à respeito do assunto "férias grandes" são contados por adultos, mas são interessantes porque vão comprovar que esta coisa de ser miúdo ou miúda é igual em (quase) toda a parte. Vejam os jogos, as brincadeiras, os acidentes que sempre acontecem, os cães amigos do peito (nós dizemos amigos del alma), sei lá, tanta coisa...
É claro que naquela altura não havia computadores, nem consolas, nem mp3, nem telemóveis... Mas ninguém se aborrecia - ou, pelo menos, o aborrecimento demorava pouco tempo!
De Luísa Schmidt, professora universitária, ambientalista.
A primeira coisa que me lembro das férias é que eram de facto muito grandes. Até certa idade, passava-as metade numa quinta do Livramento (uma aldeia ao pé de São João do Estoril) e metade noutra quinta em Alhandra. A Alhandra, que era a uns dez quilómetros de Lisboa, parecia longíssimo. Lembro-me de ir pela velha estrada nacional —pois não havia a auto-estrada— e ver o vaivém dos teleféricos da cimenteira. O meu avô tinha uma quinta com muitos cães, entre os quais um que mordia as pessoas baixas. Para evitar isso, eu tinha que andar de andas.
Entre irmãos e primos, seis rapazes e três raparigas, as brincadeiras eram sempre muito arrapazadas. Corridas pelo cimo das árvores. Jogar à pedrada, à apanhada, ao “bilas”, à malha... Tudo coisas de rapazes, mas as raparigas faziam parte da tribo... e também davam pontapés. Uma vez, no jogo da malha – um jogo onde se lançam bolachas de ferro para acertar num pau – o meu irmão partiu os dentes a uma rapariga. Nunca mais esquecemos o acidente.
Eu era a mais nova, e os meus irmãos nem sempre tinham pachorra. Por vezes fazia de filha deles. Brincávamos aos polícias e ladrões e eu servia de pretexto para rapto. Um dia tinha sido roubada e a minha irmã Teresa, que ia comigo às cavalitas, caiu e eu bati com a cabeça e desmaiei. Fui parar ao hospital... mas não foi mau. Mesmo em férias, estar doente lá em casa era de boa memória: a nossa mãe e a Zula enchiam-nos de mimos e de livros aos quadradinhos... (...)
De Jorge Vaz de Carvalho, barítono, professor
As minhas férias grandes eram aquelas férias enormes que havia nessa altura. Como a família da minha mãe era do Algarve, íamos para lá dois meses. Um mês era passado no monte, outro na Praia da Rocha. Durante o segundo mês eu estava com os amigos, mas no primeiro estava sozinho, e tinha de inventar brincadeiras. Acho que isso foi óptimo. Inventava com um cão que lá havia, chamado Pombinho. Era um cão sem raça definida – de raça mete-nojo, como se dizia – que sucedera a um outro chamado Piloto. Herdou o domínio territorial, mas de início achou um pouco estranho. Lembro-me que no segundo ano pensei que ele não me ia reconhecer, mas saltou-me para cima e fez-me uma grande festa por ter passado um mês a brincar comigo, um ano antes.
Uma das brincadeiras que fazia com ele envolvia encontrar inimigos e combatê-los. Eu juntava uma quantidade enorme de calhaus em cima do forno do pão que funcionava como a minha torre do castelo. O cão era o meu lugar-tenente. Os inimigos eram os galináceos, os patos, etc. Eles não atacavam, só levavam. Eram os inimigos perfeitos. (...)
(Textos tomados do jornal Público, 5 de Setembro de 2009)
Os textos que vos trago à respeito do assunto "férias grandes" são contados por adultos, mas são interessantes porque vão comprovar que esta coisa de ser miúdo ou miúda é igual em (quase) toda a parte. Vejam os jogos, as brincadeiras, os acidentes que sempre acontecem, os cães amigos do peito (nós dizemos amigos del alma), sei lá, tanta coisa...
É claro que naquela altura não havia computadores, nem consolas, nem mp3, nem telemóveis... Mas ninguém se aborrecia - ou, pelo menos, o aborrecimento demorava pouco tempo!
De Luísa Schmidt, professora universitária, ambientalista.
A primeira coisa que me lembro das férias é que eram de facto muito grandes. Até certa idade, passava-as metade numa quinta do Livramento (uma aldeia ao pé de São João do Estoril) e metade noutra quinta em Alhandra. A Alhandra, que era a uns dez quilómetros de Lisboa, parecia longíssimo. Lembro-me de ir pela velha estrada nacional —pois não havia a auto-estrada— e ver o vaivém dos teleféricos da cimenteira. O meu avô tinha uma quinta com muitos cães, entre os quais um que mordia as pessoas baixas. Para evitar isso, eu tinha que andar de andas.
Entre irmãos e primos, seis rapazes e três raparigas, as brincadeiras eram sempre muito arrapazadas. Corridas pelo cimo das árvores. Jogar à pedrada, à apanhada, ao “bilas”, à malha... Tudo coisas de rapazes, mas as raparigas faziam parte da tribo... e também davam pontapés. Uma vez, no jogo da malha – um jogo onde se lançam bolachas de ferro para acertar num pau – o meu irmão partiu os dentes a uma rapariga. Nunca mais esquecemos o acidente.
Eu era a mais nova, e os meus irmãos nem sempre tinham pachorra. Por vezes fazia de filha deles. Brincávamos aos polícias e ladrões e eu servia de pretexto para rapto. Um dia tinha sido roubada e a minha irmã Teresa, que ia comigo às cavalitas, caiu e eu bati com a cabeça e desmaiei. Fui parar ao hospital... mas não foi mau. Mesmo em férias, estar doente lá em casa era de boa memória: a nossa mãe e a Zula enchiam-nos de mimos e de livros aos quadradinhos... (...)
De Jorge Vaz de Carvalho, barítono, professor
As minhas férias grandes eram aquelas férias enormes que havia nessa altura. Como a família da minha mãe era do Algarve, íamos para lá dois meses. Um mês era passado no monte, outro na Praia da Rocha. Durante o segundo mês eu estava com os amigos, mas no primeiro estava sozinho, e tinha de inventar brincadeiras. Acho que isso foi óptimo. Inventava com um cão que lá havia, chamado Pombinho. Era um cão sem raça definida – de raça mete-nojo, como se dizia – que sucedera a um outro chamado Piloto. Herdou o domínio territorial, mas de início achou um pouco estranho. Lembro-me que no segundo ano pensei que ele não me ia reconhecer, mas saltou-me para cima e fez-me uma grande festa por ter passado um mês a brincar comigo, um ano antes.
Uma das brincadeiras que fazia com ele envolvia encontrar inimigos e combatê-los. Eu juntava uma quantidade enorme de calhaus em cima do forno do pão que funcionava como a minha torre do castelo. O cão era o meu lugar-tenente. Os inimigos eram os galináceos, os patos, etc. Eles não atacavam, só levavam. Eram os inimigos perfeitos. (...)
(Textos tomados do jornal Público, 5 de Setembro de 2009)
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