terça-feira, 3 de dezembro de 2019

Aqueles tempos da escola primária...

Escola Primária de Ribeira de Alte


É claro que para vocês aqueles tempos ficam muito mais perto do que para o autor deste texto.


E quando eu andava na escola primária?!

Depois de acordar brindei o exterior do meu corpo com um banho quente.
De seguida brindei o interior do meu corpo com uns belos cereais com leite.
Seguiu-se a viagem até à fisioterapia, que agora já só acontece 3 vezes por semana. Bom, não é?!
Mas isso agora não interessa nada.
Sou vizinho da minha ex-escola primária, que já foi minha. Foi minha 4 anos.
Passo por lá todos os dias. Hoje não foi excepção.
As aulas começaram hoje. Parece-me.
Ao passar vi por lá a criançada. Estavam no tão afamado intervalo.
Depois de ver aquilo segui em direcção ao que tinha a fazer.
O meu corpo conduzia o carro e a minha mente conduzia recordações.
E quando eu andava na escola primária?!
Passei pela mão dos duros.
Professor Nogueira. Professora Maria Angelina. Professora Alcina. Professora Rosa.
Eu faço parte dos galácticos daquela escola.
A mim deram-me aulas os que deram aulas aos meus pais.
Mesmo sendo ensinado pelo núcleo duro não fui o aluno timido, calado e aterrorizado.
Nem pensar.
Em todos as minhas folhas de avalição, naquela parte do comportamento tenho: "distraído e conversador".
Eu não era fácil de gerir.
Hoje? Hoje sou pior. Em ponto grande, mas pior.
Mas o "distraído e conversador" passou com distinção por aquela escola. Sem chumbos.
Já não me lembro como foi o meu último dia dentro daquelas paredes.
Já o primeiro nunca me esquecerei.
Sete reguadas nas mãos. SETE!!!
O Eduardo teve a ideia e eu a estupidez de alinhar.
Passou-se assim:
"Oh Cris, Cris!? Vamos jogar às espadas?"
"Como?"
"Com os lápis"
O brilho nos meus olhos e o sim às reguadas na minha boca.
"Vamos!!!"
E toca a virar para trás, para vencer o duelo dos lápis.
Quem venceu? Foi o Professor Nogueira. Deu oito reguadas no Eduardo e sete aqui no menino.
Desde esse dia, em 1989, que nunca mais joguei às espadas.
E a tabuada? Porra, tinhamos que a saber todinha.
Os rios. As serras. Aquele Meio Fisico consumia-me.
Sentavamo-nos em cima do pão antes do intervalo.
Porquê?! Não sei. Talvez porque alguém disse que aquilo era fixe.
O intervalo era mítico. A barra forte. A macaca. Os elásticos. O futebol.
E o leite? Tão bem que nos sabia aquele leite simples.
Depois tinhamos o dia do fluor. Porra, aquilo até ardia na boca.
Mas giro era o dia das fotografias.
Nós a chegar carregados. Com o sono às costas. O cabelo a olhar para o ar.
"Dia de fotografias".
Azáfama total.
Lamber a mão para tombar o cabelo teimoso que não tombava.
Ajeitar a t-shirt do Vitinho.
Enfim, era como que uma preparação para um verdadeiro desfile de moda.
As festas de fim de período foram, todas elas, muito melhores que o último Rock in Rio.
Tudo era melhor. Mas tudo mesmo.
A caminho de casa havia sempre tempo para um assalto às cerejas e às maçãs do Terranão.
Depois era a fuga ao cão. Lasco, o terrível pastor alemão.
Ninguém nos ia buscar à escola.
Não havia sinais de trânsito, nem passadeiras.
Havia uma corrida louca para casa.
Despachar os deveres e arrancar na BMX.
Bons tempos esses.
Tinhamos direito a um pacote de leite por intervalo.
Um dia, na 4ª classe, a Professora Rosa deu-nos liberdade em relação ao leite.
Poderiamos beber os pacotes que quisessemos.
A parvoíce substituiu a sede e na minha mente surgiu a pergunta: "porquê bebe-los quando posso rebentá-los?"
E assim foi.
Resultado: o recinto do intervalo ficou completamente cheio de pacotes de leite rebentados.
Eu tive a coragem de rebentar o primeiro. Os meus amigos tiveram a burrice de me seguir o exemplo.
Claro está que a Professora Rosa viu e mandou-me limpar tudo. Tuuudoooo!!
Tive que denunciar mais malta. Teve mesmo que ser. Só assim tive ajuda.
E aquele dia em que chegamos à escola e nos deparamos com o primeiro grafiti das nossas vidas?
ACDC e Ironmaiden pintados a spray vermelho na parede branca da escola.
O que quererá dizer ACDC e Ironmaiden? Pensávamos nós.
Foram quatro anos fantásticos que passaram a correr.
Um dia, quando tiver um filho, vou-lhe pedir para guardar com carinho tudo o que viver na escola primária. As vitórias e as derrotas.
Nunca mais lá entrei e moro a poucos metros dela.
Um dia gostaria de lá voltar.
Tenho saudades.

Cristiano Moreira

(Retirado do seu  blogue O olho vivo)


Nota. Sexta acepção da palavra distinção na Infopédia: "classificação de nível excelente em prova ou exame"