segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Outra vez a saudade

Palavras de Adriana Falcão


A saudade é um conceito básico para entender a cultura em língua portuguesa. Já tinha aparecido uma mensagem no blogue, e voltamos à carga (reparem na expressão idiomática) com mais uma. Custa a compreender o que é a saudade?

Leiamos outra definição de um dicionário:

"lembrança triste e suave de pessoas ou coisas distantes ou extintas, acompanhada do desejo de as tornar a ver ou a possuir; pesar pela ausência de alguém que nos é querido; nostalgia".

Com ter saudades (de alguém ou de alguma coisa) podemos traduzir a expressão espanhola "echar de menos (a alguien o  algo)": Tenho saudades dos meus amigos.

E agora, algumas frases encontradas pesquisando na rede. Dei com uma página brasileira com montes de frases, e é por isso que os autores são brasileiros.

De Mário Quintana:
O tempo não pára! Só a saudade é que faz as coisas pararem no tempo...

De Clarice Lispector:
Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida. Há momentos na vida em que sentimos tanto a falta de alguém que o que mais queremos é tirar essa pessoa de nossos sonhos e abraçá-la.


De Carlos Drummond de Andrade:
Sentimos saudade de certos momentos da nossa vida e de certos momentos de pessoas que passaram por ela.

Também temos saudade do que não existiu, e dói bastante.

De Hilda Richter:
Ter saudade é estar na presença de tua ausência.


O que acham das palavras do poeta Carlos Drummond de Andrade, "Também temos saudade do que não existiu, e dói bastante"? Compreendem? Podem imaginar nem que seja um bocado?




Saudade num degrau

Fotografia de Cris Romeiro


A palavra saudade pintada no degrau de uma escada numa rua do Rio de Janeiro.



sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Dois plurais num estêncil

Fotografia de La cautiva

No 3º ano acabamos de ver as regras do plural. Ainda custa a alguns tirar o l (ele) dos plurais das palavras terminadas nessa letra. O ele cai, podem acreditar. Reparem no plural da palavra ideal.

E parece complicado fazer o plural das palavras terminadas no ditongo nasal -ão. Cá temos a forma mais abundante das três possíveis. Plural de revolução? Revoluções. Lá isso é.

O que é o estêncil?


Atenção aos comboios

Portugal


 Brasil

Uma pequenina diferença entre Portugal e o Brasil, como podem ver, mas de todas as maneiras tanto faz, dá para rever o Imperativo de 3ª pessoa.



quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

'Todavia' não é 'ainda'


Ainda há alunos no 3º ano (acho que no 4º também) que dizem todavia em vez de ainda.

"Todavía" é espanhol, mas por acaso há um todavia português, o que acontece é que significa "Contudo; não obstante; porém; apesar disso; ainda assim."

Estão a ver? Como o nosso "sin embargo", e assim não faz sentido dizer Todavia não comi nada, mas Ainda não comi nada.

Repararam na capa desse livro lá em cima? Quantas vezes disseram vocês em pequenos quando iam de carro com os pais "¿Cuánto falta?" ou "¿Falta mucho todavía?"? Podem ver como é que dizem as crianças portuguesas.

Ainda, pois.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Timor e timorenses



Apareceu a palavra timorenses na sala de aula dos alunos do 4º ano e alguém perguntou. por essa palavra. Vamos aprender alguma coisa sobre o país dos timorenses.


Timor-Leste (oficialmente República Democrática de Timor-Leste) é um dos países mais jovens do mundo, e ocupa a parte oriental da ilha de Timor na Ásia, além do exclave de Oecussi, na costa norte da parte ocidental de Timor, da ilha de Ataúro, a norte, e do ilhéu de Jaco ao largo da ponta leste da ilha.



Conhecido no passado como Timor Português, foi uma colónia portuguesa até 1975, altura em que se tornou independente, tendo sido invadido pela Indonésia três dias depois. Permaneceu considerado oficialmente pelas Nações Unidas como território português por descolonizar até 1999. Foi, porém, considerado pela Indonésia como a sua 27.ª província com o nome de "Timor Timur". Em 30 de Agosto de 1999, cerca de 80% do povo timorense optou pela independência em referendo organizado pela Organização das Nações Unidas.

A língua mais falada em Timor-Leste era o indonésio no tempo da ocupação indonésia, sendo hoje o tétum (mais falado na capital). O tétum e o português formam as duas línguas oficiais do país, enquanto o indonésio e a língua inglesa são consideradas línguas de trabalho pela atual constituição de Timor-Leste. Devido à recente ocupação indonésia, grande parte da população compreende a língua indonésia, mas só uma minoria o português.

(Retirado da Wikipédia)





sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

A senhora do retrato (Manuel Alegre)

Pintura de Zinaida Serebryakova

Os retratos a óleo fascinam-me. E ao mesmo tempo assustam-me. Sempre tive medo que as pessoas saíssem das molduras e começassem a passear pela casa. Para falar verdade, estou convencido que isso aconteceu algumas vezes. Em certas noites, quando eu era pequeno, ouvia passos abafados e tinha a sensação de que a casa ficava subitamente cheia de presenças. Ainda hoje não gosto de atravessar os longos corredores das velhas casas com grandes retratos pendurados nas paredes. Há olhos que nos seguem do alto e nunca se sabe o que de repente pode acontecer.

Havia na casa da tia Hermengarda um quadro deslumbrante. Ficava ao cimo das escadas, à entrada do corredor que dava para os quartos de dormir. Mesmo assim, rodeado de sombras, irradiava uma luz que só podia vir de dentro da dama do retrato. Não sei se da blusa muito branca, se dos olhos, às vezes verdes, às vezes cinzentos. Não sei se do sorriso, às vezes alegre, às vezes triste. Eu parava muitas vezes em frente do retrato. Era talvez o único que não me assustava. Creio até que dele se desprendia uma luz benfazeja, que de certo modo me protegia.

Mas havia um mistério. Ninguém me dizia quem era a senhora do retrato. Arminda, a criada velha, benzia-se quando passava diante do quadro. Às vezes fazia figas e estranhos sinais de esconjuração. A prima Luísa passava sem olhar.

- Essa pergunta não se faz - disse-me um dia em que lhe perguntei quem era aquela senhora.

Percebi que não gostava dela e que era um assunto proibido. Até a minha mãe me ralhou e me pediu para nunca mais fazer tal pergunta. Mas eu não resistia. Por vezes descaía-me e dava comigo a perguntar quem era a senhora dos olhos verdes, quase cinzentos, que me sorria de dentro do retrato.

Com a minha tia-avó, eu tinha uma relação especial. Ela lia-me histórias e poemas inquietantes. Creio que troçava das convenções, talvez das próprias pessoas. Por vezes era difícil saber quando estava a sério ou a brincar. Apesar de já ser muito velha, tinha um sentido agudo do ridículo. Foi a primeira pessoa verdadeiramente subversiva que conheci. Era óbvio que tinha um fraco por mim. Pelo menos era o único membro da família a quem ela tratava como um igual. Dormia no andar de baixo e nunca subia as escadas. Talvez por isso eu nunca lhe tinha perguntado quem era a senhora do retrato.

Um dia, farto já de tanto mistério e ralhete e, sobretudo, das gaifonas da Arminda e do ar empertigado da prima Luísa, não me contive e perguntei-lhe. A minha tia sorriu. Depois levantou-se, pegou no molho de chaves que trazia preso à cintura, abriu uma gaveta da escrevaninha e tirou um álbum muito antigo. Voltou a sentar-se e lentamente começou a mostrar-me as fotografias. Eram quase todas da senhora do retrato e do meu primo Bernardo, que há muito tinha partido para a África do Sul.

Apareciam juntos a cavalo e de bicicleta. E também de fato de banho, na praia da Costa Nova. Havia alguns em que o meu primo estava de smoking e ela de vestido de noite. Via-se também a tia Hermengarda, mais nova, por vezes os meus pais, gente que eu não conhecia. Até que chegámos à senhora do retrato já de branco vestida.

- Natacha - murmurou a minha tia, com uma névoa nos olhos.

E depois de um silêncio:

- Ela chama-se Natália, mas eu gosto mais de Natacha, sempre a tratei assim. É preciso dizer que a tia Hermengarda tinha vivido em Moscovo no início da carreira diplomática do marido e era uma apaixonada dos autores russos, Pushkine, Dostoievski, principalmente Tolstoi, que visitou algumas vezes em Isnaia Poliana. Identificava-se com as personagens de Guerra e Paz. Creio que amava secretamente o príncipe André e gostava de ter sido Natacha. Falava muito da alma russa. Era uma propensão do seu espírito.

- Tu também tens alma russa - dizia-me. E era como se me tivesse armado cavaleiro.


Manuel Alegre é um escritor e poeta português.






O menino cresceu...

Fotografia de Gabriela Bruno

Numa rua portuguesa.


quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Uma citação de Montaigne

Michel de Montaigne

"A palavra é metade de quem a pronuncia, metade de quem a ouve."

Michel de Montaigne


Michel de Montaigne (1533 - 1592) foi um escritor e filósofo francês, considerado por muitos como o inventor do ensaio pessoal.




quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Portugueses na Índia

Forte português de Diu, na Índia (Fot. de Emílio Moitas)

O Estado Português da Índia, também conhecido por Estado da Índia ou Índia Portuguesa, designa o grupo de territórios ocupados por Portugal na Índia, à época do Império Português. Quando se deu a independência da Índia em 1947, Portugal detinha os direitos sobre vários enclaves na costa indiana, cuja posse datava da época dos Descobrimentos, logo após a ligação marítima ter sido estabelecida por Vasco da Gama. Entre estes territórios, incluíam-se: Goa, Damão, Diu e Dadrá e Nagar Haveli, um exclave de Damão bem no coração do Gujarat.

Muitas vezes a Índia Portuguesa é referida como apenas Goa, já que esta foi, durante anos, a principal praça comercial.


terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Calle Rua em Puebla de Sanabria (Zamora)


Puebla de Sanabria é uma vila da província de Zamora, que fica a vinte e tal kms da fronteira portuguesa. Uma das ruas centrais de Puebla tem este curioso nome: Calle Rua.

Ou se calhar não é tão curioso. Lembrem-se da ponte de Alcântara, em Cáceres (a palavra Alcântara significa 'ponte' em árabe). E Puebla de Sanabria fica tão perto de Portugal que afinal não admira o nome dessa rua, pois não?




segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

"Pra que um carro se no ônibus..." (Renato Ventura)


O curitibano Renato Ventura fez esta ilustração para a campanha ecológica de uma revista  brasileira chamada Capricho.

Pra que um carro se no ônibus você pode encontrar o amor da sua vida?

Reparem na palavra ônibus. Em Portugal dizem autocarro. E o você brasileiro equivale ao tu português. Isso já sabiam, não era?


sábado, 12 de fevereiro de 2011

O meu guri (Chico Buarque)



O MEU GURI

Quando, seu moço
Nasceu meu rebento
Não era o momento
Dele rebentar
Já foi nascendo
Com cara de fome
E eu não tinha nem nome
Prá lhe dar
Como fui levando
Não sei lhe explicar
Fui assim levando
Ele a me levar
E na sua meninice
Ele um dia me disse
Que chegava lá
Olha aí! Olha aí!

Olha aí!
Ai o meu guri, olha aí!
Olha aí!
É o meu guri e ele chega!

Chega suado
E veloz do batente
Traz sempre um presente
Prá me encabular
Tanta corrente de ouro
Seu moço!
Que haja pescoço
Prá enfiar
Me trouxe uma bolsa
Já com tudo dentro
Chave, caderneta
Terço e patuá
Um lenço e uma penca
De documentos
Prá finalmente
Eu me identificar
Olha aí!

Olha aí!
Ai o meu guri, olha aí!
Olha aí!
É o meu guri e ele chega!
Chega no morro
Com carregamento
Pulseira, cimento
Relógio, pneu, gravador
Rezo até ele chegar
Cá no alto
Essa onda de assaltos
Tá um horror
Eu consolo ele
Ele me consola
Boto ele no colo
Prá ele me ninar
De repente acordo
Olho pro lado
E o danado já foi trabalhar
Olha aí!

Olha aí!
Ai o meu guri, olha aí!
Olha aí!
É o meu guri e ele chega!

Chega estampado
Manchete, retrato
Com venda nos olhos
Legenda e as iniciais
Eu não entendo essa gente
Seu moço!
Fazendo alvoroço demais
O guri no mato
Acho que tá rindo
Acho que tá lindo
De papo pro ar
Desde o começo eu não disse
Seu moço!
Ele disse que chegava lá
Olha aí! Olha aí!

Olha aí!
Ai o meu guri, olha aí
Olha aí!
E o meu guri!...(3x)

Fotografia de CARF (Children at Risk Fundation, Brasil)



sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Jorge Colombo e Nova Iorque

Capa da revista New Yorker (Junho 2009)














A vida de Jorge Colombo, ilustrador, fotógrafo e designer português, está ligada à cidade de Nova Iorque, onde vive há mais de vinte anos. Lá em cima podemos apreciar uma capa da prestigiada revista New Yorker,  assinada por ele. A imagem foi criada recorrendo a uma aplicação do telemóvel iPhone.


Ouvidos e mais ouvidos

As paredes têm ouvidos,  Amélia Toledo

Não é preciso dizer quais são as expressões equivalentes destas na nossa lingua, pois não? (Fora a última, se calhar)

  • As paredes têm ouvidos
  • Entrar por um ouvido e sair pelo outro
  • Prestar ouvidos / orelhas
  • Ser todo ouvidos
  • Tocar de ouvido
  • Fazer ouvidos moucos ("hacer oídos sordos")


quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

A palavra 'chá'


Estou certo que vocês não gostam muito de chá, mas é verdade que uma das palavras que mais chama a atenção dos espanhóis quando aprendem a língua portuguesa é chá. Em espanhol é té; em inglês, tea; em francês, thé; em italiano, tè... Vejamos o porquê dessa diferença entre o português e as línguas europeias vizinhas.


O caráter chinês para chá é o que vêem cá em cima, mas tem duas formas completamente distintas de se pronunciar. Uma é 'te' que vem da palavra malaia para a bebida, usada pelo dialecto Min-nan que se encontra em Amoy. Outra é usada em cantonês e mandarim, que soa como 'cha' e significa 'apanhar, colher'.

Esta duplicidade fez com que o nome do chá nas línguas não chinesas as dividisse em dois grupos:

Línguas que usam derivados da palavra TE: alemão, inglês, dinamarquês, hebraico, húngaro, finlandês, indonésio, italiano, letão, tamil, sinhala, francês, neerlandês, espanhol, arménio e latim científico.

Línguas que usam derivados da palavra CHA: hindi, japonês, português, persa, albanês, checo, russo, turco, tibetano, árabe, vietnamita, coreano, tailandês, grego, romeno, swahili, croata.

(Fonte: Wikipédia)


terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

António Damásio

António Damásio em 2008

António Damásio (Lisboa, 25 de Fevereiro de 1944) é um médico neurologista, neurocientista português que trabalha no estudo do cérebro e das emoções humanas. Atualmente é professor de Neurociência na University of Southern California. Entre os anos de 1996-2005 Damásio trabalhou no hospital da University of Iowa.

Licenciou-se em Medicina na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, onde veio também a doutorar-se. Após uma estadia no Centro de Investigação da Aphasia de Boston (EUA), regressou ao Departamento de Neurologia do Hospital Universitário de Lisboa.

Publicou o seu primeiro livro: O Erro de Descartes - Emoção, Razão e Cérebro Humano assim como O Sentimento de Si (2001), eleito um dos dez livros do ano pelo New York Times. Também escreveu Ao encontro de Espinosa. Recebeu, entre muitos outros prémios, o Prémio Pessoa e o Prémio Príncipe das Astúrias de Investigação Científica e Técnica em Junho de 2005.

Estudioso de neurobiologia do comportamento humano e investigador das áreas cerebrais responsáveis pela tomada de decisões e conduta. Observou o comportamento em centenas de doentes com lesões no córtex pré-frontal, permitindo concluir que, embora a capacidade intelectual se mantivesse intacta, esses doentes apresentavam mudanças constantes do comportamento social e incapacidade de estabelecer e respeitar regras sociais.

Os seus estudos debruçam-se sobre a área designada por ciência cognitiva, e têm sido decisivos para o conhecimento das bases cerebrais da linguagem e da memória.

Em 2010 é distinguido com o prémio Honda, atribuído pela Honda Foundation.


(Retirado da Wikipédia. Mais dados em: Infopédia da Porto Editora)