quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Carta (Matilde Rosa Araújo)



Carta

Porto, cidade sempre tão perto. Um instante mágico na minha memória, instante que se repetiu tantos anos.
Chegar de comboio, atravessando a Ponte Maria Pia, a luz tímida dentro do comboio, aquele cheiro da locomotiva ao qual posso chamar aroma.
Olhar através do vidro da janela, olhar, querer ficar com a imagem, o comboio já a abrandar num cansaço manso. E o apitar da máquina, canto roubado de agonia.
E a cidade naquele instante da janela, a cidade vista, namorada da ponte. Rosto moreno de granitos, lágrimas com risos de chuva a iluminá-la.
Rosto moreno de granito com beijos de sol em doce afago.
O rio, que se chama Douro com tanta razão.
Para mim, o Porto é chegar. Como um sonho sonhamos, mas como contar o que é, o foi o sonho?
Cidade severa e meiga, granitos que de longe se afagam.
O sonho continuado tantos anos do meu olhar a cidade, da Ponte Dona Maria Pia.

Matilde Rosa Araújo, in Com Quatro Pedras na Mão 


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Podem fazer uma ideia do tempo de que fala Matilde Rosa Araújo, lendo os seguintes linhas da Wikipédia, e de passagem, podem ver como é que é a ponte Maria Pia.



A Ponte Maria Pia é uma infraestrutura ferroviária, que transportava a Linha do Norte sobre o Rio Douro, entre as cidades do Porto e Vila Nova de Gaia, no Norte de Portugal. Foi inaugurada em 4 de Novembro de 1877, e foi encerrada em 24 de Junho de 1991, tendo sido substituída pela Ponte de São João. É considerada, junto com o Viaduto de Garabit, como as maiores obras-primas executadas pelo engenheiro Gustave Eiffel.

(Wikipédia)


Pormenor da ponte