A adição às selfies não tem muito a ver com um saudável amor de si mesmo: não é mais do que a marcha no vazio de um eu narcísico que ficou só. Perante o vazio interior, o sujeito tenta em vão produzir-se a si mesmo. Mas é só o vazio que se reproduz. As selfies são o eu em formas vazias. A adição às selfies intensifica a sensação de vazio. O que leva a uma adição assim não é o saudável amor de si mesmo, mas uma autorreferência narcísica. As selfies são belas superfícies lisas e lustrosas de um eu esvaziado e que se sente inseguro. Hoje, para se escapar ao vazio atormentador, deita-se mão ou à lâmina de barbear ou ao smartphone. As selfies são superfícies lisas e lustrosas que ocultam por um breve tempo o eu vazio. Mas se as virarmos da frente para trás, deparamos com o reverso coberto de feridas e que sangra. As feridas são o reverso das selfies.
Byung-Chul Han, A Expulsão do Outro, Lisboa, Relógio D’Água, 2018, p.35.
Byung-Chul Han, A Expulsão do Outro, Lisboa, Relógio D’Água, 2018, p.35.
(Obrigado ao Luís, que descobriu)
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Sobre a fotografia usada para ilustrar as palavras de Byung-Chul Han:
"Selfies mataram mais que ataques de tubarão em 2015
O principal tipo de acidente ligado às selfies é a queda; pelo menos três das 12 mortes registradas estão ligadas a isso
As aparentemente inofensivas selfies já mataram mais que os temidos tubarões em 2015. Até o início de setembro, 12 pessoas morreram em acidentes envolvendo selfies no ano. Enquanto isso, no mesmo período, os ataques de tubarões foram responsáveis por oito mortes. O levantamento foi feito pelo site de tecnologia Mashable."
(Correio - Bahia)