Ouguela (Alentejo, Portugal) em baixo; Alburquerque (Badajoz, Espanha) ao fundo.

terça-feira, 17 de abril de 2012

O mundo em que vivi (Ilse Losa) + trabalho


Volta a escritora Ilse Losa a este blogue, mas antes de começar a leitura recomendo a leitura deste dados biográficos, que já foram publicados noutra mensagem em que vimos como ela nos faava da sua infância.

Ilse Lieblich Losa (nascida Ilse Lieblich, Melle-Buer, 20 de Março de 1913 — Porto, 6 de Janeiro de 2006) foi uma escritora portuguesa de origem judaica. Nascida na Alemanha, frequentou o liceu em Osnabrück e Hildesheim e mais tarde um instituto comercial em Hannover.

Ameaçada pela Gestapo de ser enviada para um campo de concentração devido à sua origem judaica, abandonou o seu país natal em 1930. Deslocou-se primeiro para Inglaterra onde teve os primeiros contactos com escolas infantis e com os problemas das crianças. Chegou a Portugal em 1934, tendo-se fixado na cidade do Porto, onde casou com o arquitecto Arménio Taveira Losa, tendo adquirido a nacionalidade portuguesa. Em 1943, publicou o seu primeiro livro, O mundo em que vivi,e desde essa altura, dedicou a sua vida à tradução e à literatura infanto-juvenil, tendo sido galardoada em 1984 com o Grande Prémio Gulbenkian para o conjunto da sua obra dirigida às crianças.


Trabalho para a semana de 16 a 20 de abril

Depois de lerem este excerto em que Ilse Losa fala dos seus avós, devem redigir um texto em que falem dos vossos avós, daqueles com quem tiveram mais contato: pode ser um avô, ou uma avó, ou podem ser os dois, paternos, maternos, enfim, isso fica à vossa escolha. Espero que as palavras desta autora portuguesa de origem alemã vos sirvam de inspiração. 

No blogue há ferramentas para o trabalho. E se acabarem, há links nele para pesquisarem. Reparem, por outro lado, nas Etiquetas: cliquem e explorem.


O meu avô, homem alto e magro, de cara larga, ossuda e um tanto avermelhada, olhos claros e quase sempre tristes, tinha o costume de levantar as sobrancelhas espessas quando dizia alguma coisaimportante. Isso fascinava-me e por isso me desgostavaver-lhe, por vezes, as pingas de sopa presas no bigode pendente para cada lado da boca. Não ligava com ele, sempre tao apurado, como cabelo farto, penteado cuidadosamente. “Limpa a boca, avô”, dizia eu. “Ora, ora”, respondia ele, um bocado embaraçado.

A avó contrastava com a figura esguia e imponente do avô. Baixa, muito baixa mesmo, tinha a cara miúda sulcada de rugas e usava o cabelo branco rigidamente penteado para cima da cabeça, onde o juntava num puxo redondo, apertado. Preferia vestidos escuros, que protegia nas lidas domésticas com um avental cor de cinza.

Eu, a julgar pelas fotografias, não passava duma menina frágil, de cabelo louro, de feições infantilmente lisas. Nada mais descubro que valha a pena destacar.

Vivíamos os três numa pequena casa com uma varandadeitada sobrea rua, coberta com vinha. Ali minha avó passava as tardes de verão a fazer meia ou a costurar. Ao certo não me recordo se costurava, mas suponho que sim, pois não me lembro de costureira alguma que a tivesse substitutido nesse serviço. Mas seja como for: que fazia meia nunca o poderei esquecer.

O mundo em que vivi (Ilse Losa)



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