Ouguela (Alentejo, Portugal) em baixo; Alburquerque (Badajoz, Espanha) ao fundo.

segunda-feira, 15 de maio de 2017

Alma(da) - Joana Fernandes



Achei esta mensagem no blogue de uma jovem de Almada, que fica em frente da cidade de Lisboa e pertence ao distrito de Setúbal, e que foi trabalhar um dia a Cabo Verde como professora. Ela chama-se Joana Fernandes.

Eu colei o texto tal e como ele aparece no seu blogue Escritos. Gostei do que ela escreve e, ainda por cima, fala de saudade... Como temos estado a ver o que é que isso é, ótimo achado!

Antes de começar a ler, uma definição da palavra estória, que vão encontrar no texto:  "Talvez por decalque do inglês "story" a palavra estória seja utilizada como sinónimo de narração curta, pequena historieta de entretenimento" (Ciberdúvidas)


Alma(da)
Passei hoje na cidade do costume com outros olhos. Na minha cidade. Olhos de ver. Parei. Hoje vi a minha cidade. Pus-me com olhos de ver na cidade que levo no coração para todo lado. No coração. A minha cidade, que tem alma e que pisca o olho a Lisboa.

Sentei-me no chão das estórias da história que passou por ali. Estórias que pintaram a Alma das cores que cheiram a Tejo. E sonhei.

Acordou-me a inveja da miúda que saltava à corda na rua. Saltava à corda, com a alma cheia de sorrisos despreocupados. Ia ficar ali todas as horas do mundo porque não sabia ver horas. E só tinha as horas todas do mundo. Todas as horas do mundo para ela, naquela cidade de ruas estreitas. Todas as horas do mundo para saltar à corda.
As luzes acenderam-se e a noite foi trazendo o vento. Vim a ver a rua e senti saudades. Saudades de quando um choro gritado era imperativo e panaceia, porque alguém resolvia o que fosse, ali, logo. Saudades do beijinho da mãe, que fazia a dor passar. Saudades da boca lambuzada de chocolates e gelado. Saudades de não saber ver as horas.
Saudades repetidas. E de mais gelados e de mais chocolate. Saudades de brincar, na calçada, onde esfolava os joelhos, até não haver sol. Saudades dos amigos imaginários com quem nunca mais falei.

Saudades de mim antes de ser este eu de agora. Saudades de me encontrar, perdida, na minha minha Almada. Que tem cheiro de poesia e de coisas a que os miúdos pequenos brincam.

Melancolia esquisita, de quem vai embora mas fica sempre, sempre, com uma fotografia bem dobrada dentro do peito.

Obrigada.

* * * * * * * * * * * * *

E agora damos mais um pulo: já fomos de Almada, em Portugal, na Europa, a Cabo Verde, na África; e daqui à América, ao Brasil, com Ana Carolina e Seu Jorge, que cantam para nós, Tanta saudade, composição de Chico Buarque e Djavan.







TANTA SAUDADE

Era tanta saudade
É, pra matar
Eu fiquei até doente
Eu fiquei até doente, menina
Se eu não mato a saudade
É, deixa estar
Saudade mata a gente
Saudade mata a gente, menina

Quis saber o que é o desejo
De onde ele vem
Fui até o centro da terra
E é mais além
Procurei uma saída
O amor não tem
Estava ficando louco
Louco, louco de querer bem

Yeah, tum tum tum, tumtumtumtum, yeah...

Mas restou a saudade
É, pra ficar
Ai, eu encarei de frente
Ai, eu encarei de frente, menina
Se eu ficar na saudade
E deixar
Saudade engole a gente
Saudade engole a gente, menina
Quis saber o que é o desejo
De onde ele vem
Fui até o centro da terra
E é mais além
Procurei uma saída
O amor não tem
Estava ficando louco
Louco, louco de querer bem
Quis chegar até o limite
De uma paixão
Baldear o oceano
Com a minha mão
Encontrar o sal da vida
E a solidão
Esgotar o apetite
Todo o apetite do coração

Tum tum tum, tumtumtumtum, yeah...

Ai, amor, miragem minha, minha linha do horizonte, é monte atrás de monte
é monte, a fonte nunca mais que seca
Ai, saudade, inda sou moço, aquele poço não tem fundo, é um mundo e dentro
um mundo e dentro é um mundo que me leva...

Yeah, tum tum tum, tumtumtumtum, yeah...


(Letra em Vagalume)


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