Ouguela (Alentejo, Portugal) em baixo; Alburquerque (Badajoz, Espanha) ao fundo.

sexta-feira, 3 de maio de 2019

E tudo era possível (Ruy Belo)

Fotografia de Jorge Raimond


Que beleza a destes versos do poeta português Ruy Belo! Vamos ler bem, devagar, pensando no que o poeta diz, e reparem, por favor, nesse belo terceto final. E depois, vemos, ouvimos e lemos ao mesmo tempo este soneto.

Gosto sempre de ler este soneto aos alunos no belo mês de maio. O poeta, adulto, lembra-se de quando era novo e ainda vivia em casa dos pais, mas...



E TUDO ERA POSSÍVEL 

Na minha juventude antes de ter saído
da casa de meus pais disposto a viajar
eu conhecia já o rebentar do mar
das páginas dos livros que já tinha lido

Chegava o mês de maio era tudo florido
o rolo das manhãs punha-se a circular
e era só ouvir o sonhador falar
da vida como se ela houvesse acontecido

E tudo se passava numa outra vida
e havia para as coisas sempre uma saída
Quando foi isso? Eu próprio o não sei dizer

Só sei que tinha o poder duma criança
Entre as coisas e mim havia vizinhança
e tudo era possível era só querer.