Uma notícia lida no jornal Público, no dia 21 de março deste ano. Como a notícia é comprida, deixo aqui os parágrafos mais importantes para vocês. No link pode ler-se completa.
A Árvore Europeia de 2018 é um sobreiro “assobiador” português
A árvore portuguesa venceu a 8.ª edição do concurso europeu, ao qual concorreram 13 países. Mais do que uma árvore bonita, procurava-se uma árvore com história e ligada à comunidade. E isso o sobreiro português tem.
TERESA SERAFIM - 21 de março de 2018
Um sobreiro português foi eleito esta quarta-feira Árvore Europeia de 2018. O Sobreiro Assobiador da aldeia de Águas de Moura, no concelho de Palmela, foi distinguido numa competição que envolveu mais 12 árvores de diferentes países europeus. A distinção foi anunciada ao final da tarde numa cerimónia no Parlamento Europeu, em Bruxelas, depois de uma votação online que decorreu em Fevereiro e contou com cerca de 200 mil votos. Em segundo e terceiro lugar ficaram ulmeiros espanhóis e um carvalho russo, respectivamente.
“Ficámos muito contentes. Acho que é muito importante para a floresta portuguesa e para o sobreiro, que é o nosso símbolo”, reage à vitória Nuno Calado, engenheiro florestal e secretário-geral da UNAC – União da Floresta Mediterrânea, responsável pela participação portuguesa. “Espero que este prémio alerte para a importância da floresta portuguesa e para os sistemas agro-florestais, como o sobreiro e o montado, porque são muito importantes para o Sul de Portugal.” Ao todo, a árvore portuguesa teve 26.606 votos. O engenheiro florestal, que esteve na cerimónia em Bruxelas, conta que virá para Portugal um troféu feito com madeira de diferentes espécies, que será entregue à Câmara Municipal de Palmela. Ficará um ano em Portugal e, para ano, será passado ao novo vencedor.
Também no pódio ficaram os ulmeiros ancestrais de Cabeza Buey, em Badajoz (Espanha)com 22.323 votos e um carvalho da Rússia chamado “ancião das florestas de Belgorod” com 21.884 votos. As árvores espanholas são bem velhinhas: os sete ulmeiros (Ulmus minor) têm cerca de 450 anos. E são considerados a última representação das florestas urbanas da Estremadura. “Apesar da ameaça da grafiose [fungo] do ulmeiro, uma doença que matou mais de um milhão de árvores em Espanha e mais de mil milhões no mundo, estas árvores conseguiram permanecer de pé, nos arredores da ermida do Santuário de Nossa Senhora de Belém, de grande valor histórico artístico e com origem templária”, refere o site do concurso.
Já o carvalho-comum (Quercus robur) tem cerca de 188 anos e cresceu numa área de protecção ambiental no Oeste da Rússia. “Sob a sua copa realizaram-se eventos públicos e celebrações”, lê-se no site, acrescentando-se que esta árvore testemunhou acontecimentos históricos ou que hoje se organizam flashmobs para se formarem corações à sua volta.
Esta é a 8.ª edição do prémio Árvore Europeia do Ano, organizado pela Associação de Parceria Ambiental (EPA) e inspirado num concurso da República Checa, que foi transposto para a Europa em 2011. Se nesse ano concorreram apenas cinco países, este ano já foram 13. Além de Portugal, Rússia e Espanha, participaram a Hungria, Reino Unido, Eslováquia, Lituânia, Roménia, Polónia, Bulgária, República Checa, Croácia e a Bélgica.
Este foi o primeiro ano em que Portugal participou. “A UNAC [membro da Organização dos Proprietários Rurais Europeus – ELO, que apoia o concurso e desafiou Portugal] entrou este ano enquanto entidade organizadora a nível nacional”, indica Nuno Calado. Como este era o “ano zero” para Portugal, a organização do concurso propôs que fosse a UNAC a escolher uma árvore. “Escolhemos um sobreiro porque é a árvore nacional de Portugal. Tendo de escolher um sobreiro, escolhemos o assobiador que é o mais icónico”, explica Nuno Calado, acrescentando que esta árvore está classificada pelo Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) como “árvore de interesse público” desde 1988. Além disso, é formalmente reconhecido como o sobreiro mais velho de Portugal e o maior do mundo que se conhece.
O sobreiro (Quercus suber) em Portugal tem uma forte representação na economia. “A fileira da cortiça exportou em 2017 quase mil milhões de euros”, salienta Nuno Calado, dizendo que até se têm criado novos produtos e aplicações, como no design e na inovação. “Há ainda a questão territorial: através do sobreiro e da cortiça conseguimos fixar populações, criar emprego e gerar receitas para as populações locais e os produtores florestais.”
O sobreiro ocupa cerca de 800 mil hectares em Portugal. “Tem uma importância muito grande a nível do ecossistema”, diz o engenheiro florestal. “Não é um habitat natural e o homem tem de intervir para manter aquela estrutura típica do montado, que lhe confere as mais-valias ambientais e ecológicas que tem enquanto suporte para o habitat de espécies como o lince-ibérico ou a águia-real.”
Na cerimónia, minutos antes do anúncio dos resultados, o biólogo português Humberto Delgado Rosa, ex-secretário de Estado do Ambiente e actual director do programa Capital Natural da Comissão Europeia, também afirmou que esta árvore era “muito significante para Portugal neste momento”. “Como se lembram, enfrentámos mega-incêndios catastróficos no Verão”, disse, destacando que o sobreiro é uma árvore especializada em resistir ao fogo.
Namoros e conversas à sombra
Por todas estas razões escolheu-se o Sobreiro Assobiador. Estima-se que tenha sido plantado há 234 anos. Tem cerca de 30 metros de diâmetro de copa e cerca de 17 metros de altura. “É conhecido como o Sobreiro Assobiador, porque como tem uma copa muito larga – que apesar da idade avançada está em boas condições –, quer ao nascer do dia que ao pôr do Sol as aves pousam na sua copa e fazem um chilrear imenso. Daí o nome da árvore”, conta Nuno Calado. E, se ao longo da sua vida lhe extraíram cortiça mais de 20 vezes, agora isso já não acontece. “Já está na reforma”, brinca.